quarta-feira, 30 de março de 2011

INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA




A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida...


Mário Quintana

segunda-feira, 28 de março de 2011

Ciranda do Mundo

A verdade dividida





A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.



Drummond


Nua, deitada, lasciva
Quase adormecida,
Estreia os seus gemidos

Saulo Mendonça no livro "Luz de Musgo"




No céu, quantos trovões!!
Gozos espalhafatosos
das nuvens quando cruzam.


Poesia Haicaísta* do poeta paraibano Saulo Mendonça

* forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade.



Ou Isto Ou Aquilo


Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.


Cecília Meireles

sexta-feira, 25 de março de 2011




A paz procura seu lugar lentamente...
a mim ainda não invadiu, não me tomou por completo, mas virá, vejo que caminha em minha direção.
Só miragem?! Espero que não.
Eu, nada farei para afastá-la, para jogá-la para fora de mim..
Ela vem, a deslizar nas entrelinhas..
Ah!  A PAZ
Ela quer sorrir, de um sorriso tranquilo e sereno, alma e coração limpos, receptivos, repetindo o mantra: QUE SEJA DOCE!


"Se te contentas com os frutos ainda verdes,
toma-os, leva-os, quantos quiseres.
Se o que desejas, no entanto, são os mais saborosos,
maduros, bonitos e suculentos,
deverás ter paciência.
Senta-te sem ansiedades.
Acalma-te, ama, perdoa, renuncia, medita e guarda silêncio.
Aguarda.
Os frutos vão amadurecer."

Prof. Hermógenes

O RIO E O OCEANO


Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme
de medo.
Olha para trás, para toda a jornada,os cumes, as montanhas,
o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos
povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar
nele nada mais é do que desaparecer para sempre.
Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar.
Ninguém pode voltar.Voltar é impossível na existência. Você
pode apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no oceano é que o medo
desaparece.
Porque apenas então o rio saberá que não se trata de
desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano.
Por um lado é desaparecimento e por outro lado é
renascimento.
Assim somos nós.
Só podemos ir em frente e arriscar.
Coragem !! Avance firme e torne-se Oceano!!!

Osho

quarta-feira, 2 de março de 2011

DA ETERNIDADE



 

a eternidade é feita de pássaros
que riem do vôo em falso
dos homens

planar além dos rochedos
é anoitecer
desinteressada perenidade

é não precisar de relógio
pra se descobrir presente

nem contemplar o passado
fez invisível do tempo

o que há de mais seguro
no alvará da incerteza
que levita?

o futuro tem asas
repete o poeta
timidamente

Antônio Mariano Lima

Reencontro




Não importa o lugar, não importa dia e hora.
Dia chegará que os olhares se tocarão
e num instante infinitesimal
dois espíritos se verão completamente inebriados
pelo reconhecimento súbito de um amor antigo...
e no reconhecimento desse amor,
seus espíritos se reconhecerão
na inebriante experiência do amor.
se tocarão como o vento,
superando as incertezas do mundo...

(Autor desconhecido)
"Traga sempre a lembrança o fato que você é um peregrino, e que o mundo não é mais que um lugar, e que as situações que você se encontra, ou cria para si, devem ser consideradas não somente do ponto de vista mundano, mas de uma busca para nós mesmos."

Paul Brunton

Foto: tirada no sítio do meu tio-pai, em um dos muitos domingos passados lá.

Torne-se leve

Quando estiver sentado, apenas sinta que você ficou leve, não há nenhum peso. Você irá sentir que em algum lugar ou outro existe peso, mas continue sentindo a ausência de peso. Isso vem.

Chega uma hora quando você sente que está leve, que não há
nenhum fardo. Quando não há nenhum peso você não é mais um corpo, porque o peso é do corpo – não seu. Você é sem peso.

Você precisa
livrar-se da hipnose. Essa é a hipnose, a crença de que “Sou um corpo e é por isso que sinto peso”. Se você puder livrar-se da hipnose compreendendo que você não é um corpo, você não irá sentir peso. E quando você não sente peso você está além da mente.

A
técnica da siddhasan, o modo como Buda senta, é a melhor maneira de ficar sem peso. Sente-se sobre a terra – não sobre uma cadeira ou qualquer outra coisa, apenas no chão. Sentado numa postura de Buda, fechado – suas pernas estão fechadas, suas mãos estão fechadas – isso ajuda, porque assim sua eletricidade interior torna-se um circuito.

Deixe que sua espinha fique reta. Agora você pode entender porque tanta ênfase tem sido dada a espinha, porque com uma espinha reta uma área cada vez menor é coberta, assim a
gravidade lhe afeta menos.

Com os olhos fechados, equilibre-se completamente, fique centrado. Incline-se à direita e sinta a gravidade; incline-se à esquerda e sinta a gravidade; incline-se para frente e sinta a gravidade; incline-se para trás e sinta a gravidade. Então encontre o centro onde o menor empuxo da gravidade é sentido, o menor peso é sentido, e
permaneça lá.

Assim esqueça do corpo e sinta que você não tem peso – você está sem peso. Então prossiga sentindo essa ausência de peso. Subitamente você se torna sem peso; subitamente
você não é o corpo, subitamente você está num mundo diferente de corpo sem peso.

Ausência de peso é corpo sem peso. Assim você também
transcende a mente. Mente é também parte do corpo, parte da matéria. Matéria tem peso, você não tem qualquer peso. Essa é a base dessa técnica.
Osho, em "The Book of Secrets"

O Pé de Acácia



O Pé de Acácia

Se eu fosse aquele pé de acácia,
ali na encosta,
exibindo o amarelo agressivo de minhas flores
contra o fundo verde da mata,
sentir-me-ia cheio de prazer
por oferecer abrigo aos ninhos e néctar às abelhas diligentes.
Gozaria, por certo, com o roçar macio do vento,
a tirar sons em meus ramos.
Nem me incomodaria mesmo de acolher algum parasito....
Se eu fosse aquele pé de acácia,
teria gosto de dar sombra ao casal de namorados
mas, sem dúvida, sofreria as dores impostas pelo machado
e ficaria triste com os moleques a matar meus passarinhos...
Mas eu responderia com a nobre impassibilidade de uma árvore.
Se eu fosse aquele pé de acácia,
imóvel, confiante, sereno,
majestosamente sereno,
saberia aceitar o que viesse,
sem lamentar,
sem reclamar,
sem me abater...
Mesmo que o temporal destruísse meus ninhos,
mesmo que as borboletas deixassem de vir ao amanhecer
e minhas folhas murchassem,
mesmo que o estio prolongado e forte viesse queimar-me
e as abelhas, sem encontar sustento, se fossem...
Embora passível de gozar e sofrer,
continuaria uma acácia majestosamente serena
e conservaria sempre a nobreza ereta de uma árvore.
Se eu fosse aquele pé de acácia
saberia aceitar como as coisas são;
não me rebelaria com o inevitável.
Saberia que,
até no mal cheiroso esterco,
energia inefável se manifesta...
e seria minha nutrição.
Acataria os golpes da poda,
a necessária dor para crescer.
Aceitaria os golpes do lenhador
que viesse fazer de mim algo útil.
Renunciaria a ser a pincelada amarela a embelezar a paisagem,
e me deixaria transformar em acha de lenha,
e meu mistério se libertaria em forma de luz e calor
ou viria a servir de esteio a um casebre
e meu mistério se faria abrigo.
Quando chegarei a ter a majestade
daquele pé de acácia
dando vida, beleza, abrigo, amenidade e lição?

Prof. Hermógenes

terça-feira, 1 de março de 2011

Inocência: a alma da inteligência



No momento que a inocência desaparece, a alma da inteligência se vai, ela é um cadáver. É melhor chamá-la de simplesmente "intelecto."

Ela pode fazer de você um grande intelectual, mas
não transformará sua vida e não tornará você aberto aos mistérios de existência.
Osho, em "The Transmission of the Lamp - Talks in Uruguay"

Foto: tirada no meu jardim, enquanto conversava com vovó...



A beleza é uma luz divina, um raio celestial que diviniza os próprios objectos em que fulge.

Pietro Metastásio

Foto por Tina Andrade - Flor da Cerejeira 

Toque levemente nos seus olhos



Use ambas as palmas, coloque-as sobre seus olhos, e permita as palmas tocarem nos olhos – mas apenas como uma pena, sem nenhuma pressão. Se você pressionar você 
perde o ponto, você perde toda a técnica.

Não pressione, somente toque como uma pena. Você terá que ajustar porque no princípio você estará pressionando. Coloque cada vez menos pressão até que você esteja apenas tocando sem nenhuma pressão – suas palmas apenas tocam nos globos oculares.

Por quê? Porque uma agulha pode fazer algo que uma espada não pode. Se você pressionar, a qualidade muda – você fica agressivo. E a energia que está fluindo através dos olhos é bem sutil: uma leve pressão e começa a luta e uma resistência é criada. Se você pressionar, então a energia que está fluindo através dos olhos iniciará uma resistência, uma luta, resultará num conflito. Assim não pressione; mesmo uma leve pressão é suficiente para a energia ocular resistir.

Isso é muito sutil, muito delicado. Não pressione – como uma pena, só sua palma está tocando, como se não estivesse tocando. Tocar como se não estivesse tocando, nenhuma pressão; só o toque, um leve sentimento que a palma está tocando no globo ocular, isso é tudo.

Que irá acontecer? Quando você simplesmente toca sem nenhuma pressão, a energia começa a mover-se por dentro. Se você pressionar, ela começa a lutar com a mão, com a palma, e vai embora. Apenas um toque e a energia começa a mover-se dentro. A porta está fechada, simplesmente fechada e a energia retorna. Na hora que a energia retorna, você irá sentir uma leveza tomando toda sua face, sua cabeça. Essa energia retornando lhe torna leve.

Mesmo que você não esteja entrando profundamente em meditação, isso irá lhe ajudar fisicamente. A qualquer hora do dia, relaxado numa cadeira – ou se não tiver uma cadeira, quando estiver sentado num trem – feche seus olhos, sinta um ser relaxado por todo seu corpo, e assim coloque ambas as palmas sobre seus olhos. Mas não pressione – essa é a coisa bem significante. Apenas toque como uma pena.

Quando você toca sem pressionar, seus pensamentos cessam imediatamente. Numa mente relaxada os pensamentos não podem mover-se; eles congelam. Eles precisam de agitação e febre, precisam tensão para mover-se. Eles vivem através da tensão. Quando os olhos estão silenciosos, relaxados, e a energia está retornando, os pensamentos cessarão. Você irá sentir uma certa qualidade de euforia, e isso irá aprofundar-se diariamente.



Osho, em " The Book of Secrets"
Imagem por BradandTia
http://www.flickr.com/photos/19794298@N07/
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Às vezes, fico me perguntando porque é tão difícil
ser transparente?
Costumamos acreditar que ser transparente é
simplesmente ser sincero, não enganar os outros.
Mas ser transparente é muito mais do que isso.
É ter coragem de se expor, de ser frágil, de
chorar, de falar do que a gente sente...
Ser transparente é desnudar a alma, é deixar cair
as máscaras, baixar as armas, destruir os imensos
e grossos muros que nos empenhamos tanto
para levantar...
Ser transparente é permitir que toda a nossa
doçura aflore, desabroche, transborde!
Mas infelizmente, quase sempre, a maioria de nós
decide não correr esse risco.
Preferimos a dureza da razão à leveza que exporia
toda a fragilidade humana.
Preferimos o nó na garganta às lágrimas que
brotam do mais profundo de nosso ser...
Preferimos nos perder numa busca insana por
respostas imediatas à simplesmente nos entregar e
admitir que não sabemos, que temos medo!
Por mais doloroso que seja ter de construir uma
máscara que nos distancia cada vez mais de quem
realmente somos, preferimos assim:
manter uma imagem que nos dê a sensação de
proteção... E assim, vamos nos afogando mais e
mais em falsas palavras, em falsas atitudes, em
falsos sentimentos.
Não por sermos pessoas mentirosas, mas apenas
porque nos perdemos de nós mesmos e já não
sabemos onde está nossa brandura, nosso amor
mais intenso e não-contaminado.
Com o passar dos anos, um vazio frio e escuro nos
faz perceber que já não sabemos dar e nem pedir
o que de mais precioso temos a compartilhar,
doçura, compaixão... a compreensão de que todos
nós sofremos, nos sentimos sós, imensamente
tristes e choramos baixinho antes de dormir, num
silêncio que nos remete a uma saudade
desesperada de nós mesmos... daquilo que pulsa e
grita dentro de nós, mas que não temos coragem
de mostrar àqueles que mais amamos!
Porque, infelizmente, aprendemos que é melhor
revidar, descontar, agredir, acusar, criticar e julgar
do que simplesmente dizer:
"você está me machucando... pode parar, por
favor?".
Porque aprendemos que dizer isso é
ser fraco, é ser bobo, é ser menos do que o outro.
Quando, na verdade, se agíssemos com o coração,
poderíamos evitar tanta dor, tanta dor...
Sugiro que deixemos explodir toda a nossa
doçura!
Que consigamos não prender o choro, não conter
a gargalhada, não esconder tanto o nosso
medo, não desejar parecer tão invencível.
Que consigamos não tentar controlar tanto,
responder tanto, competir tanto, que consigamos
docemente viver, sentir, amar...
E que você seja não só razão, mas também
coração, não só um escudo, mas também
sentimento. Seja transparente, apesar de todo o
risco que isso possa significar.

Rosana Braga